Estará disponível na internet, a partir desta segunda-feira, 19, o livro digital “Mesmo Sol Outro”, projeto de criação artística de Carolina Cerqueira e Tálisson Melo que é composto por fotografias digitais e analógicas, montagens digitais, colagens, desenhos e documentos históricos de elementos da cultura visual e do patrimônio que conectam vivências negras entre Brasil e Angola. O projeto foi contemplado pelo Rumos Itaú Cultural 2015-2016, um dos principais programas de fomento à cultura e às artes brasileiras.
Todo o material foi coletado em uma viagem feita pelos dois artistas, movidos pela curiosidade de saber como esses dois territórios, Brasil e África, se constituem, direcionando o olhar para o registro das ações humanas sobre os espaços e as pulsões que várias camadas ativas da história escondem-mostram e mostram-escondem. O percurso iniciou em Juiz de Fora (MG) e terminou em Luanda, capital de Angola. Durante o processo, passaram pelo Rio de Janeiro, Salvador, Cachoeira e São Félix, na Bahia, e visitaram a comunidade remanescente do quilombo Colônia do Paiol, em Bias Fortes (MG), e Johannesburgo, na África do Sul.
O livro digital surgiu da vontade de transformar em objeto as sensações e emoções despertadas nos caminhos pelos quais passaram, as pessoas, coisas e contextos com que trocaram afetos, ideias e olhares. A ideia também foi de registrar as diversas camadas experimentadas ao longo do trajeto de uma busca por conexões e imersão no que já povoa as imaginações acerca das culturas do Brasil e África – territórios tão diversos e encobertos por narrativas e representações tão opacas.
Carolina e Tálisson compartilham suas reflexões e produções há seis anos e são interessados pelas interseções conscientes entre cultura visual e arte contemporânea. Em Mesmo Sol Outro se propuseram a percorrer e explorar os contextos soteropolitano, luandense e quilombola mineiro, interagir com seus habitantes, apreender mais de suas histórias, aprofundar o conhecimento sobre seus símbolos, costumes, visualidades e patrimônio, a fim de compor uma narrativa visual aberta às conexões entre os dois países, as culturas negras e a condição pós-colonial.
Esses elementos permitiram relacionar o passado colonial escravocrata, suas transformações decorrentes da abolição da escravidão e da independência dessas nações que tiveram sua identidade cultural composta pelas matrizes africanas e afro-brasileiras. Da perspectiva de sua configuração contemporânea, abordam todas essas camadas de historicidade e identidade, considerando trânsitos plurais e intensificados pelo processo de globalização que permite influência/contaminação mútua entre os repertórios desses lugares. A pergunta que os norteia nesta busca: “qual é o mesmo que me aproxima do outro?”.