O premiado cineasta e publicitário maranhense Arturo Saboia viaja a Cannes, França, no início de maio para lançar seu mais recente trabalho. O filme curta-metragem “Farol”, escrito e dirigido por ele foi selecionado para integrar a mostra Short Film Corner, no mais importante festival de cinema do mundo.
No elenco, os atores Antônio Saboia, que atualmente também está na série “O mecanismo”, dirigido por José Padilha (de “Tropa de Elite”) e disponível na Netflix, e também com a atriz global Gabriela Carneiro da Cunha. O filme teve como locação o Farol do Araçagi e a praia de Raposa. O lançamento oficial do filme “Farol” em São Luís está previsto para junho. A seguir, a entrevista concedida por Arturo Saboia contando sobre o processo de elaboração do filme.
É a segunda vez que um filme seu é exibido no Festival de Cannes. O que isso significa para você?
Estive lá a primeira vez com outro filme meu chamado “Acalanto” e que logo depois da estreia teve uma carreira extraordinária ganhando diversas premiações nacionais e internacionais. Torço para que o novo filme “Farol” possa também estabelecer um amplo diálogo e identificação com o público que o assistir e fico feliz que tudo isso se inicie novamente em Cannes, que é um lugar que respira cinema por todo lugar, além de ser também um dos melhores lugares do mundo para você fechar parcerias internacionais para novos projetos, já que há ali agentes do mundo inteiro buscando novas ideias provenientes dos mais diversos países.
Como surgiu a ideia do filme Farol?
Eu sempre procuro partir de uma ideia que tenha um apelo universal. Se “Acalanto”, por exemplo, fala da força e pungência do amor materno, no “Farol” é abordado um tema também comum a tantas pessoas, que é a dor de uma separação. Porém, nesse filme preferi seguir por caminhos onde o que mais importa, não são as razões as quais levaram um casal a estarem ali naquela situação, pois elas podem ser infinitas, mas sim, a maneira como eles reagem quando a possibilidade real de perda um do outro é iminente. Qualquer gesto não visto ou percebido, ou mesmo uma palavra ou frase que o outro não escute, pode ser determinante em tais momentos.
E por qual razão a escolha de um farol para retratar isso?
Um farol geralmente é associado a ideia de baluarte, terra firme e porto seguro, mas por outro lado, uma vez tão próximo a ele, pode também agir como obstáculo que dificulta um possível acesso ou aproximação, já que sua forte luz giratória é capaz de barrar nossa plena visão e suas imensas escadarias, devido ao imenso eco reverberado ali, podem também dificultar o entendimento do que cada um procura falar ou ouvir naquele íngreme espaço. A figura do Farol, tem por sua própria natureza essa dicotomia, a qual é embasada a estrutura dorsal do filme.
Conte como foi o processo de captação de recursos para o filme.
Esse filme só foi possível devido à criação do Edital de Cinema no Estado do Maranhão que financiou integralmente o projeto. O Maranhão era um dos poucos estados do Brasil onde não havia nenhum edital para produções audiovisuais voltados para o cinema. Se formos avaliar outras regiões tão próximas a nós, como Pernambuco ou Ceará, constatamos que esse engajamento já vem de longo tempo e que já foi consolidada uma produção audiovisual muito forte em suas respectivas localidades, que repercute em níveis internacionais. O Governo do Maranhão, junto à Ancine, à Sectur (Secretaria de Cultura e Turismo) e também à toda classe cinematográfica do estado, perceberam a importância dessas iniciativas como forma de levar o nome do Maranhão a outros patamares imprescindíveis para a construção de uma identidade cinematográfica que represente nosso estado. Portanto, é indispensável a continuidade desses editais para dar vazão a tantas vozes e histórias que o Maranhão possui.
Como se deu o processo de seleção dos atores?
O Antônio Saboia é um ator incrível e muito dedicado. Já de longa data vínhamos procurando trabalhar juntos em um filme, mas sempre esbarrávamos em fatores que acabavam adiando esse encontro num set de filmagem. Hoje constato que esse trabalho em conjunto se deu no melhor momento possível. Tenho muita admiração pelo trabalho e pela carreira que ele vem construindo. A Gabriela Carneiro da Cunha é igualmente uma atriz muito perceptiva em relação às nuances que o roteiro exigia. É uma atriz que traz elementos de sua própria maturidade, seja profissional ou pessoal, para dar vida e verdade às personagens que ela interpreta. Tínhamos todos diálogos fundamentais para buscar recriar a atmosfera que o filme exigia. Foi um prazer imenso dividir o set de filmagem com eles dois, além também de contar com uma equipe extraordinária praticamente toda aqui do Maranhão, que fez um trabalho extremamente empenhado e profissional.
Quais os próximos projetos cinematográficos?
Já estou com um roteiro pronto de um longa-metragem e que está em fase de captação de recursos, além de buscar co-produções internacionais para realizá-lo em breve e torço para que a ida a Cannes seja uma boa oportunidade para isso.
E finalmente, o que você espera desse novo filme?
O propósito maior do cinema para mim, não apenas com esse filme, mas também em todos os outros que faço, é fazer com que cada um se sinta parte daquela história, através de suas próprias experiências. É saber que aquela história possa estabelecer uma conexão com cada um de nós. Se esse objetivo é atingido, o filme passa a existir por ele próprio, independentemente de quem o realizou ou de quem o concebeu, pois ele passa a fazer parte da vida de quem o assiste e o interpreta à luz de suas próprias vivências e experiências. Cinema para mim é uma espécie de comunhão e desdobramento. Esse para mim, é o real sentido de um filme e do se fazer cinema.