Ele sempre foi adepto do movimento e, desde criança, um inquieto em busca de novos desafios. O publicitário, produtor cultural e cantor maranhense Celso Brandão, há quase dois anos à frente da direção do Teatro Arthur Azevedo, é um vocacionado para fazer as coisas acontecerem. Geminiano, inteligente, comunicativo, criativo e cheio de ideias, ele começou a demonstrar talento para as artes aos 11 anos, delineando uma trajetória marcada por passagens inusitadas e marcantes.
Celso Brandão revelou seus dotes musicais no tempo em que morava com os pais no bairro Belira, no centro de São Luís. As primeiras notas do menino humilde, falante e curioso foram na charanga Turma do Saco, bloco que lhe daria a primeira oportunidade. “Eu sempre passava pela porta da sede, na fronteira entre os bairros Lira e Belira, e lá estavam eles, ensaiando. Um belo dia, quando de minha mãe recebi a incumbência de ir à feira comprar frango abatido para o almoço, parei e desafiei a banda”, conta.
O menino comunicativo revelou que sabia de cor e salteado o samba “Pauliceia Desvairada”, tema-enredo da escola carioca Estácio de Sá naquele ano. Foi uma surpresa para o mestre de bateria. Celso não pensou duas vezes: entregou o frango para um colega segurar e fez o teste na hora. Como fora aprovado, recebeu outra incumbência: a de decorar mais de 10 sambas-enredos que teria de apresentar no dia seguinte, na festa em homenagem ao Dia das Crianças no Araçagi Praia Clube. O resultado foi um sucesso. Em casa, chegaria com o frango por volta das 15h. Muito depois do almoço.
“Sempre fui assim, com aquela necessidade urgente de experimentar e realizar, sem rodeios. Gosto de desafios e de transformar as coisas para melhor. Arte é movimento, assim como a vida. E não podemos ficar parados diante de algo que pode ser feito. Gosto de realizar, inovar e agradar”, afirma.
Dali para adiante, viriam inúmeros convites e oportunidades. Fosse cantando, produzindo ou contribuindo de alguma maneira, Celso Brandão passou por várias agremiações em São Luís: Caroçudo, Cobra das Estrelas, Os Foliões, Turma do Quinto, Os Brasinhas e Boi de Nina Rodrigues, para citar algumas com as quais se envolveu. Além disso, cantou em diversas quadrilhas juninas, ao passo que ia aprendendo cada vez mais. De cada experiência, tirava uma lição.
Brandão ingressou na Escola de Música Lilah Lisboa de Araújo e, além de cantar, começou a produzir seus shows. Depois, aceitaria outro desafio: o de trabalhar no Festival Guarnicê de Cinema, por meio do Departamento de Assuntos Culturais da
UFMA, a convite do jornalista e professor Euclides Moreira Neto, que, rapidamente, identificou suas habilidades. “Ele me contratou para trabalhar por apenas um mês. Mas afirmei que um mês não daria nem para o começo”, recorda o diretor, que acabou ficando por dez anos, à época revelando-se um dinâmico coordenador de festivais, projetos e produções independentes, muitas delas apresentadas no Arthur Azevedo. Eram pelo menos 16 projetos, entre eles Femaco, Festival Guarnicê de Cinema, Maracanto, Tocata de Bandas e Fanfarras, Arte Efêmera e Carcará.
Em 2012, à frente do Festival Guarnicê de Cinema, conheceu a famosa atriz Marília Pêra (in memoriam) e o marido dela, Bruno de Faria. “Nossa afinidade foi grande. Homenageamos Marília no festival e me aproximei do casal, ao ponto de eles me convidarem para ir ao Rio de Janeiro, especialmente para assistir a uma peça dela”, recorda, lembrando que, quando Euclides Moreira Neto assumiu a Fundação Municipal de Cultura, teve a oportunidade de coordenar mais projetos.
Onde chega, Celso movimenta. Em sua gestão no Arthur Azevedo, o teatro está se destacando. “E o lustre voltou a subir”, descontrai ele, que se incomodou com o fato de o objeto em cristais (que sobe antes de cada apresentação) ter ficado parado por um tempo, à espera de conserto. “Logo que aceitei o convite para a direção da casa, percebi que precisava dar uma guinada em todos os sentidos e, mais que tudo, oportunidades para os nossos talentos. Queria fazer as coisas com qualidade, como o público merece. Na vida, não devemos apenas assistir de camarote às coisas aconteceram. É preciso fazer a nossa parte e acreditar que podemos realizar”, afirma ele, que desde 2016 coordena a Semana Maranhense de Dança e a Semana Maranhense de Teatro.
O diretor conseguiu realizar projetos grandiosos, como o musical em homenagem a João do Vale. O musical será apresentado em Pedreiras, dia 27 de abril, em praça pública, bem como em outros municípios, antes de seguir para turnê nacional. Outra iniciativa ousada é o espetáculo de dança “Chico, eu e Buarque”, que, no segundo semestre, será levado para os palcos do Rio de Janeiro e São Paulo.
“Meu pai é de Pedreiras e ele sempre exaltou João do Vale. Muito cedo, conheci a obra do maranhense e cantava suas músicas. Não poderia deixar de homenageá-lo por ocasião dos 200 anos do Teatro Arthur Azevedo, ano passado, pegando carona na revalorização dos musicais no Brasil”, diz o diretor.
O suntuoso prédio do século XIX virou a extensão de sua casa. “Como passo mais tempo aqui, sou obrigado a trazer minha filha e minha esposa para cá, sendo esta também uma forma de aproximá-las mais da arte”, conta ele, referindo-se a Lídia Barbosa e às filhas Sara (9) e Laura (13), suas três paixões. A quarta é o Arthur Azevedo.