Duas grandes descobertas foram encontradas em sítios arqueológicos na Baixada Maranhense, mais precisamente no município de Santa Helena que fica a 115 km da Capital. Na primeira delas, foram encontrados vasos de barros com bordas incisas, tradicionais dos povos aruaques que habitavam parte da Amazônia e a América do Norte, e datados do século II depois de Cristo. A segunda descoberta, foi achada uma flauta, feita de osso. Não se sabe, ainda, se de animal ou humano, e datada do século IX.
Segundo Alexandre Navarro, arqueólogo e professor da Universidade Federal do Maranhão (UFMA), estas descobertas são únicas em todo o Brasil não tendo sido realizadas em nenhuma outra parte do país e abrem todo um leque de estudos, para se definir quem eram e como viviam os povos indígenas maranhenses e brasileiros, antes de os portugueses desembarcarem por aqui.
Os vasos, achados em um sítio arqueológico datado entre os anos 100 e 150 depois de Cristo, mostram que os povos que habitavam a Baixada Maranhense eram provavelmente descendentes dos povos aruaques. Isso porque o tipo de borda encontrada nos vasos descobertos nas escavações remetem ao trabalho que era realizado por esse povo. Eram vasos utilizados para a guarda de utensílios, ou mesmo urnas funerárias.
No Brasil, até então esses povos estavam contidos à regiões da Amazônia, mais próximos às margens do Rio Amazonas e chegaram a criar uma civilização extremamente avançada na Ilha do Marajó, inclusive tendo conhecimento da escrita e produzindo uma cerâmica de alta qualidade.
Agora, com essas novas descobertas, segundo o professor, pode se especular que estes povos tenham deixado a Região Amazônica e migrado para o interior do Maranhão, estabelecendo aldeias e culturas às margens dos rios e nas regiões alagadas. Esses mesmos povos se estabeleceram na região construindo verdadeiras cidades suspensas (palafitas) às margens e dentro de rios e campos alagados da Baixada Maranhense. São as chamadas estearias. Eram bons fabricantes de cerâmica boa, esses povos deixaram muitos utensílios para serem explorados. E nesse monte de descobertas, foi que a equipe do arqueólogo encontrou a flauta de osso. De acordo com Alexandre Navarro, essa é a primeira vez que uma equipe de pesquisadores encontra, em escavações, um instrumento deste tipo, o que o faz único em toda a história da pesquisa arqueológica brasileira.
“As flautas que temos hoje em museus e exposições são do período colonial. Esta é anterior a isso. Tem uns 1200 anos de idade”, ressaltou o arqueólogo.
Segundo a pesquisadora Lúcia Gaspar, da Fundação Joaquim Nabuco, as flautas indígenas, são instrumentos constituídos por um tubo aberto em uma ou em ambas as extremidades, são feitas de bambu, madeira e osso, como fêmur de onças, tíbia de veados, cervos, alces, asas de jaburu, clavículas, e até ossos Humanos.
Pesquisas iniciais apontam que a flauta encontrada em Santa Helena é feita de osso, por isso ela ainda está disponível para nós até hoje, falta se definir ainda de que animal.
A pesquisa sobre os povos da águas, como são chamados os indígenas que viviam em palafitas na Baixada Maranhense, está sendo realizada há alguns anos pela Universidade Federal do Maranhão. O estudo faz parte de um projeto acadêmico multidisciplinar que visa a realização de pesquisa arqueológica, que resultará em uma “Carta Arqueológica das Estearias Localizadas na Porção Centro-Norte da Baixada Maranhense”, englobando os municípios de Olinda Nova do Maranhão, Santa Helena e Pinheiro.
Na região já foram encontrados diversos tipos de utensílios de barro, com pelo menos 1.200 anos de idade, entre eles urnas funerárias, vasos, panelas e demais utensílios domésticos, machadinhas, artefatos de cultos e objetos ritualísticos, tais como figuras de animais, chocalhos, colares e figuras humanas.
Os pesquisadores ainda não tem certeza a quais povos, ou grupos étnicos, pertencem esses objetos encontrados, mas com as novas descobertas abre-se uma nova hipótese, a da migração dos aruaques.
Arqueologia
Já no começo do século XX, pesquisadores iam pelos lagos da Baixada Maranhense atrás de evidências dos povos que viveram na região há milhares de anos. O professor Raimundo Lopes foi pioneiro nessas pesquisas e descobriu as estearias, que formavam verdadeiras “cidades flutuantes”, com até dois quilômetros quadrados de extensão e milhares de moradores.
Esses índios cortavam, na base da machadinha de pedra, os troncos de madeira de lei, como pau d’arco e pau santo, e construíam suas casas em formatos de palafitas, sobre estruturas chamadas esteios, dentro dos rios e lagos, daí o nome estearia.
“Essa é a primeira vez que encontramos esse tipo de cerâmica fora da Amazônia e da Venezuela”
Por Alexandre Navarro
Arqueólogo e professor da UFMA