Os indícios das chamadas estearias - moradias lacustres construídas há quase dois mil anos com troncos de árvores que serviram de sustentação para as construções superiores de aldeias no Maranhão - foram apresentados ontem pelo professor do Departamento de História da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) Alexandre Guida Navarro (que contou com a colaboração do também professor do Curso de Música da Uema e assessor da Pró-Reitoria de Graduação, João Gouveia), no 56º Congresso Internacional de Americanistas, que acontecerá até sexta-feira (20), na cidade de Salamanca, na Espanha. A pesquisa, considerada única por representar palafitas com alto grau de preservação e intitulada “O povo das águas: carta arqueológica das estearias da porção centro-norte da Baixada Maranhense”, foi financiada pelo Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Maranhão (Fapema).
Na apresentação, o professor explicitou que as estearias apresentam registros em pontos isolados na América do Sul, em especial na foz do Rio Amazonas e no alto da mesma reserva hidrográfica, nas proximidades do Peru, além do próprio Maranhão (nas cidades de Santa Helena, distante 150 quilômetros da capital maranhense, Olinda Nova do Maranhão e Penalva). Segundo o professor, no início dos levantamentos, a informação era que os povos das estearias haviam vivido de 165 d.C. (depois de Cristo) até mais ou menos 1000 d.C (depois de Cristo). Com a descoberta da estrutura em áreas maranhenses, catalogou-se o registro de uma moradia ainda mais antiga, possivelmente erguida no ano de 24 d.C (depois de Cristo).
Navarro informou ainda que a datação das estearias no Maranhão foi possível pela técnica do carbono 14. “Os cientistas retiraram os carbonatos que representam as espículas de cauixi [animal com o aspecto de esponja que possui espinhos e comuns nas margens dos rios da Baixada Maranhense], que foram guardadas dentro de recipientes de cerâmica encontrados próximos às estearias. Com isso, foi possível datar a época provável de existência destas populações na região da Baixada”, afirmou.
Segundo o pesquisador, é possível - a partir da descoberta das estearias - afirmar que durante a época de Cristo já viviam índios na Baixada. “A data constatada de existência dos índios, ou seja, nos primeiros anos depois de Cristo, é a mais antiga já conhecida para estes sítios arqueológicos em todo o Maranhão e mostra que estas populações já viviam há milhares de anos na Baixada”, disse Navarro.
O pesquisador confirmou ainda que o trabalho arqueológico no estado terá prosseguimento no fim deste ano. É neste momento que os vestígios das estearias e, em consequência, das populações na região da Baixada, ficarão ainda mais evidentes.
Nome: Alexandre Guida Navarro
Competências
É coordenador do Laboratório de Arqueologia (LARQ)
Pertence ao Programa de Pós-Graduação em História Social (PPGHIS)
Está lotado no Departamento de História (DEHIS) da Universidade Federal do Maranhão (UFMA)