Um homem misterioso visita todas as noites um casal de idosos e sua presença traz mudança sutis naquela rotina, além de lembranças e angústias do passado. Esse é o enredo da obra “Lamparina da Aurora”, mais recente produção do cineasta maranhense Frederico Machado que será lançado nos cinemas no próximo dia 30 deste mês.
Com um toque de thriller psicológico, o filme se equilibra entre o visceral e o poético, acentuando uma característica marcante na obra de Machado, que é o excelente aproveitamento do silêncio para traduzir os dramas dos personagens. No caso de Lamparina da Aurora, esse elemento é ainda mais contundente que em “O Exercício do Caos” e “O Signo das Tetas”, seus dois longas anteriores.
O silêncio define a atmosfera que ronda aquela relação muito bem interpretada pelos atores Vera Leite, Buda Lira e Antonio Saboia, cujas atuações estão impecáveis, mostrando que muito pode ser dito sem que uma palavra sequer precise ser dita.
Essa relação é permeada pela poesia intensa de Nauro Machado, pai do cineasta, que não apenas serve de referência, ela serve como uma linha que entrelaça todo o enredo. Narrados pelo próprio poeta, os versos trazem uma presença forte, como um outro personagem na trama. Nauro se torna um narrador onisciente, seus versos complementam a tensão, a angústia e a fantasmagoria existente naquela relação. A participação do poeta, falecido em 2015, é bem mais que afetiva, ela se torna fundamental para a história que é contada.
Durante 75 minutos, o público mergulha no profundo universo daqueles três personagens, permeados por segredos, mágoas e angústias e, dessa forma, retirado totalmente da sua zona de conforto, é transportado para um universo sensorial, hermético e com muitas referências poéticas.
Além da poesia de Nauro Machado, o filme tem referências a filmes de Hitchcock e Mário Brava. As alusões, porém, ultrapassam filmes (ou cineastas) de gênero, vez que toda a obra do diretor se aproxima do cinema existencial de Bergman, Bela Tarr e Tarkovski.
Rodado no Sítio Piranhenga, em São Luís, o filme tem uma fotografia impecável, além de atuações excelentes dos atores e uma produção elaborada. Mais comercial que os filmes anteriores de Frederico Machado, “Lamparina da Aurora’ mostra que para instigar o público é preciso envolvê-lo, levá-lo para dentro do universo dos personagens sem, no entanto, cair em uma narrativa óbvia.
Já autor de obras importantes como os curtas “Litania da Velha”, “Inferno”, “Vela ao Crucificado” e os longas “O Exercício do Caos” e “O Signo das Tetas”, o cineasta Frederico Machado mostra a sua consolidação como um cineasta independente de grande representação nacional.
Premiações
O filme teve sua estreia em janeiro de 2017 na 20ª Mostra de Tiradentes, onde ganhou o prêmio de melhor filme (prêmio Carlos Reichenbach) na mostra competitiva Olhos Livres. Segue seu caminho com premiações por festivais nacionais e internacionais, como o 40º Festival Guarnicê (Maranhão-Brasil), onde ganhou seis prêmios, o Festival FilmFest Kitzbuhel (Áustria) e o 34º Festival de Cinema de Bogotá (Colômbia), com potencial para grandes premiações.
FICHA TÉCNICA:
Duração: 75 minutos – Brasil
Direção, produção, fotografia e roteiro: Frederico Machado
Elenco: Antonio Saboia, Buda Lira e Vera Leite
Montagem: André Garros
Direção de Arte: Guilherme Verde e Dida Maranhão
Assistente de Direção: Breno Ferreira
Assistente de Fotografia: Manuela Farias
Som Direto: Daniel Costa e Danilo Vale
Distribuição: Lume Filmes