O ilustrador maranhense Filipe Jordan, tem apenas 25 anos e já possui mais de 12 mil seguidores no instagram. O artista se tornou conhecido pelo seu jeito único de representar o público masculino através de sua arte: de forma mais delicada e sensível, a marca do artista é a utilização de tons de rosa em suas ilustrações
A arte ajuda muitos a superar fases complicadas em sua vida e não foi diferente com Filipe Jordan, que passou por crises de ansiedade e também depressão em sua adolescência , além de vivenciar cenas de ódio, como bullying e homofobia. Como sempre gostou de desenhar e pintar, a arte serviu como "terapia" para o maranhense.
"Bom, eu sempre gostei muito de desenhar e pintar. Eu fazia desde artesanato como motivo de decoração a pinturas em tela. No entanto, por ouvir muito das pessoas que isso era perda de tempo e que eu deveria procurar fazer algo mais produtivo que me desse algum retorno, eu acabei ficando mais de um ano sem praticar nada relacionado a arte e acabei deixando de lado. Foi então que, em 2014, eu voltei a me aproximar desse universo e, para exercitar minha criatividade, eu passei a fazer desenhos a lápis de cor sempre que podia, na intenção de me divertir mesmo, mas também como um mecanismo pra me distrair e me ajudar a lidar com a depressão e as crises de ansiedade. Algo que antes e durante minha adolescência me ajudou muito mesmo", diz Jordan.
Suas inspirações dentro do mercado são os brasileiros Will Costa e Gabriel Picolo, além do indonésio Rik Lee. No início, Filipe se aventurava com desenhos realistas a lápis de cor, mas foi com a ilustração digital que o ludovicense se descobriu, e o que era apenas um "hobby" virou um trabalho.
"Profissionalmente, eu me inspiro no trabalho desses e de outros artistas. E para a produção das minhas ilustrações, eu costumo dizer que a inspiração pode surgir desde uma música, a situações e pessoas, até mesmo de experiências que remetem à infância ou qualquer outro momento da vida".
O que também chama atenção em seu trabalho são suas ilustrações de personagens que fizeram parte da infância de muitos, como o clássico Buzz Lightyear, de 'Toy Story', o próprio Super Mário e até mesmo o Mickey Mouse! Além disso, o artista faz uma releitura de personagens femininos, como no caso de 'A Pequena Sereia'.
"Como animações em cartoon e anime marcaram a minha infância, foi daí que comecei a me apaixonar pela arte de desenhar. Então, depois de criar uma identidade em que as pessoas reconhecem meu trabalho, eu imaginei como seria desenhar no meu estilo, só que com um visual diferente, os personagens que marcaram a minha infância e de muita gente, como Buzz Lightyear, Super Choque e Super Mario. Eu também retrato alguns que originalmente são do gênero feminino, em versões masculinas também imaginadas no meu estilo", comenta.
Filipe Jordan também cita que, apesar de representar o gênero masculino em 90% de suas ilustrações, ele pretende abranger mais representações em breve. "Além de desenhar personagens da cultura pop, eu retrato a figura masculina na grande maioria das minhas ilustrações. Isso, pelo fato de que meu trabalho ganhou uma certa visibilidade, quando passei a ilustrar homens de forma mais sensível e delicada, geralmente usando tons de rosa pastel na composição das cores. E também porque mais de 90% das pessoas que me acompanham nas redes sociais, e demonstram interesse em adquirir algum trabalho feito por mim, são classificadas como sendo do gênero masculino. Porém eu pretendo mudar um pouco isso, e abranger mais as representações da minha arte".
REPRESENTATIVIDADE
O ilustrador também aproveita da própria arte para representar uma realidade vivida por muitos, principalmente pelo público LGBTQ+. Com isso, Jordan criou um personagem, chamado de 'Caos', onde conta a história que o mesmo vivenciou desde criança, onde fala sobre situações de bullying e homofobia.
Caos tem seu jeito único, é diferente dos demais, e por não parecer muito com o "comum", é julgado e marcado com palavras de ódio em sua pele.
"Como eu disse antes, a minha arte é reflexo da minha vivência, seja ela de momentos felizes ou não. Citando um trecho de Lucas Boombeat no rap de Quebrada Queer "Não caber na própria casa. Sai pro mundo e não cabe no mundo", é um bom jeito de dizer que assim como eu, muitas pessoas LGBTQ+ geralmente têm o primeiro contato com a homofobia dentro da própria casa, e quando saímos de casa, sentimos de forma ainda mais forte o ódio e a intolerância da sociedade. É por essa mesma sociedade preconceituosa, que somos "endemonizados" e apontados como pervertidos apenas por sermos quem somos. Carregamos marcas de violência psicológica e até mesmo física, resultado pela falta de amor de muitos", aponta Filipe Jordan.