A história da cardiologia começa no Egito em 3000 AC, tem continuidade na China em 1200 AC e na Grécia (em 500 AC), onde Hipócrates, o pai da Medicina, ensinava em Cós que o coração tem cavidades, umas com sangue escuro e outras vermelho, e que entre tais cavidades existem válvulas, as atrioventriculares.
Em Roma (no sec. II), Cláudio Galeno manteve a tradição da Medicina Grega. Em dissecções em animais descreve a anatomia semelhante à humana. Quatorze séculos se passaram até que Leonardo da Vinci, após dissecar 30 cadáveres, tenha descrito em desenhos e notas o pericárdio e endocárdio, válvulas e músculos papilares. No século XVI, Andrea Vesalius, em seu livro De Humani Corporis Fabrica, de 1543, lança as bases da medicina moderna: o primeiro tratado de anatomia do homem com dados integralmente obtidos do cadáver. O livro de Vesalius é o primeiro pilar em que se sustenta a cardiologia.
Um século mais tarde foi a hora de Sir Willian Harvey, ao descobrir e demonstrar a circulação do sangue no século XVII. Publicou, em 1628, o livro Excercitatio Anatomica De Motu Cordis, no qual expõe e prova sua doutrina da circulação de sangue. Por isso, é considerado o pai da fisiologia, como Vesalius o pai da anatomia. Junto aos grandes anatomistas vieram os primeiros semiólogos, como Heberden, que fez a descrição magistral da angina de peito e sua ligação ao infarto do miocárdio.
No Brasil, no início da década de 1920 do século XX, a Cardiologia, em virtude do seu desenvolvimento e complexidade crescente, separou-se em definitivo da Clínica Médica, passando a constituir especialidade autônoma e bem definida.
A medicina cardiovascular no país começou a registrar importantes avanços no fim da década de 1950, no Instituto do Coração (INCOR). Hoje, contamos no Brasil com o que há de mais moderno no mundo em tecnologia de ponta para o diagnóstico e tratamento das cardiopatias, como: a revascularização miocárdica; a correção das cardiopatias congênitas; as cirurgias de válvulas cardíacas; a correção dos aneurismas e dissecções da aorta; a cirurgia de fibrilação atrial; os corações artificiais; os implantes de marca-passo e desfibriladores; os transplantes de coração; a cirurgia de revascularização do miocárdio sem o uso da circulação extracorpórea e os procedimentos minimamente invasivos com o uso de robôs.
Esses modernos avanços científicos e tecnológicos da cardiologia, contudo, precisam estar disponíveis e acessíveis a toda a população pobre e usuária do Sistema Único de Saúde (SUS), obviamente que regulada e referenciada pela atenção primária em saúde. Em visita a São Luís em 1996, para inaugurar o Hospital da Criança "Amaral de Mattos", o Dr. Adib Jatene, ministro da Saúde de então, disse-me: "Márcio, o problema do pobre é que sua família é pobre, os amigos dele são pobres e os vizinhos dele são pobres. Ele não tem a quem recorrer. É por isso que no Instituto do Coração (Incor) eu cobro U$ 40.000 por uma cirurgia de revascularização de quem pode pagar e com esse recurso eu opero dez que não podem pagar". Eis o verdadeiro estado da arte da cardiologia!