Neste mês de maio, os grupos de bumba meu boi intensificam os preparativos para a festança do São João. E comandar um batalhão de jovens não é uma tarefa fácil, mas se torna bastante prazerosa para quem tem amor pela cultura. E é essa a função de Clarissa Ferreira Lobato, 36, formada em Filosofia e coordenadora geral do Boi de Morros. Filha do cantador, compositor e presidente da manifestação folclórica, José Carlos Muniz Lobato, é ela, ao lado dos outros cinco irmãos, quem dá os comandos para que o batalhão entre em sintonia. Além disso, tudo organiza para que Morros tenha o brilho que merece nos arraiais. E isto não somente no São João, mas ao longo do ano, pois o novilho raramente tira férias.
Vestida de vaqueira campeadora, maquiagem no rosto e brilho no olhar, Clarissa Lobato vai tocando a boiada, com maestria. Cresceu em meio a uma família católica praticante e, como em outras áreas, também emprega sua fé para dinamizar o projeto do grupo folclórico concebido às margens do Rio Una. “A nossa fé é inabalável. E isto, nós levamos conosco para os terreiros. Somos um grupo pautado pelos ensinamentos de Deus. Entoamos, dançamos e tocamos baseados nas palavras de Jesus”, diz ela, que dança no grupo há mais de 18 anos.
Calma, meiga e cheia de gingado, Clarissa Lobato estreou no bailado por acaso e influência do pai. “Foi numa apresentação em Brasília. Como faltaram alguns componentes, meu pai precisava dar sustança ao batalhão. Foi aí que me chamou e comecei. De lá para cá, não parei mais”, conta.
Sempre com um largo sorriso e visível entusiasmo pelo que faz, Clarissa coordena toda a produção do grupo. É ela, também, quem escolhe a indumentária, testa a combinação entre as cores, garimpa novas peças e viaja até São Paulo, em busca de elementos que incrementem o projeto visual, sempre pechinchando. E também cuida da seleção dos novos brincantes e promove as seletivas com a presença de jurados, geralmente simpatizantes do boi.
As outras peças do quebra-cabeça nos bastidores do Boi de Morros são os irmãos de Clarissa: Matheus, Emanuele, Talita, Carlos Filho e Saul, cada um com uma função diferente. Como é a primogênita, a vaqueira simpática, bonita e alegre acaba envolvendo-se com o conjunto da obra e aparecendo mais na mídia, em entrevistas para televisões e jornais.
Em 2016, ela se casou com Emanuel Lobato Lindoso, seu primo, e, recentemente, deu à luz Clara Helena, que tomou de conta de seu coração. “Sempre tive muitos filhos, que são os brincantes. Agora, eles passaram para o segundo lugar, mas não vou abandoná-los”, brinca a agora mãe de fato, afirmando que não deixará suas funções no grupo folclórico. Ano passado, foram 80 apresentações, entre os meses de junho e julho, e em 2018, a agenda promete.
Foi Clarissa também quem contribuiu para que Morros assumisse uma nova cara, com a exuberância da indumentária e um corpo de baile que se destaca entre os demais. Ela sempre diz que o quesito “beleza” deu ao grupo uma fama despretensiosa, mas que para fazer parte do projeto, esse é um pré-requisito inexistente. “Somos adeptos da beleza interior”, frisa.
Com Morros, Clarissa Lobato está conhecendo outros terreiros. Já viajou para a Europa e para a Ásia. Com sua garra, espírito de equipe e compromisso, encantou plateias na França, Bélgica, Suíça, Alemanha, Itália, Coreia do Sul e até na China. Faz questão de apresentar um bom trabalho. Para tal, reúne-se com os integrantes, discute as coreografias, o figurino, promove palestras sobre saúde na Chácara Irmão Sol (espaço de propriedade do boi), no Parque das Palmeiras, e sempre dá bons conselhos aos integrantes.