O barco é a segunda casa de um pescador, já que ele passa dias e dias em alto mar em busca do valioso pescado. Também é como se fosse da família, um filho ou um segundo amor. Tanto que, quando perdeu sua embarcação, atropelada por um navio cargueiro, o pescador Jackson Gonçalves ficou vários dias pesaroso. “Era como se fosse alguém da família. Já tinha 10 anos que trabalhava com ela. Mas perdi o material, tudo, e aí senti um desgosto da vida”, conta o homem, que ficou uma noite inteira naufragado depois do acidente.
Antes de colocar o barco no mar, os pescadores de Raposa realizam uma série de ações que já estão enraizadas, como vistoriar o barco, colocar o óleo, preparar as redes, encher o barco de gelo, costurar os panos e, claro, não se pode esquecer do tonel de água doce e a comida. Claro que, para um pescador, a principal comida é o peixe, fresquinho e pescado na hora, escalado e assado em um pequeno fogareiro artesanal, ainda no barco, já preparado previamente, mas levam também um pouco de carne, frango e farinha. Muita farinha. “A gente leva só para variar um pouco, mas é tudo cheio de hormônio e agrotóxico. O peixe pescado na hora é bem melhor”, conta o pescador Rogério Costa Araújo.
Os barcos saem quase no mesmo dia para o mar. Segundo a pesquisadora Paula Verônica Campos Jorge Santos, mestre em Direito Ambiental e Políticas Públicas, grande parte dos pescadores não pernoita no mar. Cerca de metade deles vai e volta no mesmo dia.
Outros 39% pescam com uma frequência semanal, permanecendo cerca de cinco dias no mar e 10% pescam mensalmente, onde a estadia no mar pode perdurar por até 15 dias. Esse últimos, são menos frequentes, porque existe a necessidade de embarcações maiores, com mais autonomia, para permanências mais longas.
Ainda assim, o menor dos barcos não se afasta menos do que seis quilômetros da costa. Clodoaldo do Espírito Santo, o “Pelado”, dono de uma embarcação média, com pouco mais de seis metros de comprimento, diz que o melhor lugar para se conseguir os peixes é depois do canal dos grandes navios cargueiros.
Segundo ele conta, os peixes costumam se esconder nos canais, por que são mais profundos, e garantem proteção, principalmente para as crias. Daí, os pescadores jogam as iscas, e preparam as redes. Numa boa pesca, de dois ou três dias, chegam a levar para casa até meia tonelada de pescado, dos mais diversos tipos. Mas essa quantidade de peixe está diminuindo, já que antes os barcos chegavam a pescar até mais de uma tonelada de pescados.